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Vitrine do acervo - Hábitos do passado: cigarreira e enrolador de cigarros
Existem alguns objetos próprios do tabagismo no acervo do Museu da Imigração; entre eles, encontram-se uma cigarreira e um kit para confeccionar cigarros - enrolador, tesoura e papel de seda - doados por José Kapua, cuja família migrou da Romênia para o Brasil em 1924. Desembarcaram aqui, na Hospedaria de Imigrantes:
“Me lembro que quando descemos todo mundo começou a dar vivas, então todos nós descemos e tiraram fotografia da turma. Meu pai está comigo no colo, porque eu tinha 5 anos e tinha toda aquela gente na plataforma. Aí nós entramos, fomos direto para o café, tinha o refeitório. [...] Depois vieram chamar os meus pais, disseram que tinha parentes que estavam aqui, que vieram um ano antes para o Brasil e que estavam na portaria. [...] Aí no dia seguinte eles avisaram que quem tinha profissão podia sair. Então, meu pai, como era alfaiate, tinha documentos; ele apresentou e então pôde sair. Logo fomos na casa dos conhecidos nossos... a festa que fizeram!” [José Kapua. Depoimento de História Oral, Museu da Imigração do Estado de São Paulo, 1997]
A difusão do consumo do tabaco remete ao século XIX, mas foi durante o século XX que sua produção e seu uso se amplificaram, tornando o cigarro um importante elemento social, fazendo parte da composição visual e gestual de homens e mulheres das mais diversas camadas sociais. Antes das pesquisas científicas sobre o vício e seus malefícios à saúde, seu uso era aceito nos mais diversos ambientes, como escolas, hospitais e aviões e até mesmo estimulado, como símbolo de pertencimento a determinados grupos ou como representação de status – como no caso dos jovens que queriam ser vistos como adultos, por exemplo, e passavam a fumar em público. Poses de fotografias, por sua vez, tinham no cigarro um suporte cênico, que funcionava como mais um adorno à pessoa fotografada.
Qual seria o motivo de José Kapua ter doado esses objetos para o Museu? Será que possuía alguma relação afetiva com eles, ou considerava-os interessantes por serem cigarros feitos à mão? Será que, atualmente, receberíamos esse tipo de objeto como doação? Talvez pelo fato da família ser ligada à alfaiataria, a percepção que tinham da maneira de se vestir tenha chegado até o hábito de fumar; tais objetos podem, então, ser entendidos - em um determinado contexto histórico - como mais um elemento de estilo e da personalidade de quem os portava. Esse será um dos assuntos abordados na nova exposição temporária do Museu da Imigração sobre acessórios e ornamentos de vestuário. Aguarde!