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Mobilidade Humana e Coronavírus: O podcast e outras possibilidades de linguagens
Como já apresentado anteriormente, a série de artigos e entrevistas "Mobilidade Humana e Coronavírus" nasceu do desejo de acompanhar como o momento global que vivemos, a pandemia, atinge grupos de pessoas de maneiras distintas. Em especial, o objetivo era acompanhar qual a experiência vivenciada por aqueles que se deslocavam de seus lugares de origem e que foram atingidos pela situação de maneira tão brutal, muitas vezes sem dispor de redes de contato e apoio, em situações que envolviam xenofobia e racismo e que nos colocava em alerta sobre as diferentes transformações para as quais não estávamos preparados.
No início das postagens, em março de 2020, foram trabalhados temas e questões urgentes e seus desdobramentos. Nesse primeiro momento, os pontos que mais nos moviam versavam sobre fechamento de fronteiras, xenofobia, precarização das condições de trabalho, racismo, entre outros que afetavam, especialmente, a vida de quem migra. Abordagens essas que só se intensificaram ou se tornaram mais visíveis com o cenário pandêmico e que ainda são atuais, mesmo após quase um ano. Sabíamos que, à medida que a condição se adensava, seria necessário transformar o material produzido e transpô-lo para outras mídias, de modo a relacionar as questões levantadas pelos autores. Sabíamos também que outros fatores sociais e econômicos se somariam aos anteriores e que o tema central, a pandemia da COVID-19, seria substituído por outras urgências decorrentes dessa.
Assim, surgiu a necessidade de tornar os textos mais acessíveis, trazendo não só as reflexões propostas pelos autores, mas explorando, também, as referências e notas de rodapé contidas nas publicações, expandindo o seu entendimento inicial e subsidiando a discussão do público. Dessa forma, parte da equipe do Museu da Imigração[1] ficou responsável por um programa de podcast, mídia que cresceu muito no Brasil nos últimos anos. Esse formato possibilita uma ampla discussão, serve de segunda tela para quando as pessoas estão consumindo outros conteúdos e funcionaria como um excelente complemento aos textos do Blog do Centro de Pesquisa, Preservação e Referência (CPPR) do Museu.
Ao todo, desde julho de 2020, foram lançados seis episódios, indo ao ar na primeira semana de cada mês. Neles, foram discutidas as publicações da série "Mobilidade Humana e Coronavírus", abarcando, em cada programa, todos os textos publicados ao longo de um mês.
Embora seguindo uma estrutura definida, o programa foi mudando de dinâmica e organização no decorrer do processo de elaboração e desenvolvimento. Trabalhar com o material em áudio foi fundamental para que a equipe pudesse, entre outras coisas, disponibilizar as gravações das entrevistas realizadas para a série. Se, por um lado, o que chegava ao público pelo Blog era uma recriação da fala de cada pessoa, baseada em um texto, na discussão do podcast era possível escutar o relato em "primeira mão", entregando uma maior intensidade com relação àquilo que havia sido escrito.
Dessa forma, foram conhecidas as histórias de pessoas migrantes que moram no Brasil, como Patricia, Indira, Rawa, Vensam e Jhannyna. Com elas, descobriu-se o modo como a pandemia afetava suas vidas nas distintas realidades que viviam, como lidavam com a situação extraordinária de acordo com cada trajetória pessoal e como o fato de serem migrantes desempenhava um papel mais ou menos importante.
Também nos aprofundamos no cotidiano de pessoas brasileiras que viveram a pandemia em outros lugares do mundo. Com o isolamento social, as distâncias físicas se homogeneizaram: na impossibilidade de nos encontrarmos presencialmente, se tornou irrelevante que as pessoas entrevistadas estivessem isoladas em São Paulo, a poucos quilômetros do Museu, ou do outro lado do mundo, dependendo apenas de uma conexão de Internet para a comunicação. Isso resultou em conversas com pessoas muito distantes, e tratar de outras realidades e perspectivas, como com a Satico, o Ricardo e a Luciana, que, respectivamente, estão atualmente no Japão, em Luxemburgo e nos Estados Unidos.
Além das entrevistas, no último episódio, houve a oportunidade de aprofundar temas como os conflitos armados ativos atualmente no mundo, a saúde global e as ações realizadas por organizações da sociedade civil durante a pandemia, tentando oferecer reflexões para simplificar, mas sem por isso tornar menos complexas, as ideias apresentadas nas publicações do Núcleo de Estudos de População "Elza Berquó" (NEPO – IFCH/UNICAMP) – funcionando como uma espécie de facilitador dos textos compartilhados no Blog.
Outro ponto fundamental para o trabalho no podcast foi a possibilidade de agregar diversas produções que aconteciam, simultaneamente, a partir do trabalho das equipes do MI: séries de artigos – como a "Brasileiros na Hospedaria", que investigou o papel que o prédio do Museu ocupa nos processos de migração interna –; O MI Indica, com sugestões culturais nas mídias sociais da instituição, e o curso "A Hospedaria de Imigrantes e os tijolos do racismo estrutural no Brasil". Essas foram algumas das programações citadas, de maneira que o público acompanhou não só a linha editorial do programa, mas, também, temas correlatos trabalhados internamente sob a perspectiva de outros profissionais da instituição. Para isso, foram necessárias não só conversas constantes e coordenação de projetos, mas, também, trocas de materiais de estudo e pesquisa.
Aguardamos, agora, o último lançamento do programa, gravado em 2020, que irá ao ar no final de janeiro, sendo especial em muitos sentidos. Será a finalização de um ano de trabalho, tanto do "Mobilidade Humana e Coronavírus" quanto do GT "Histórias Invisibilizadas" – grupo de estudo que planejou e executou o curso "A Hospedaria de Imigrantes e os tijolos do racismo estrutural no Brasil". Os encontros dessa formação foram encerrados com uma mesa composta por três mulheres imigrantes (Nádia Ferreira, Natali Mamani e Maria Fernanda Pascoal), que trataram sobre como o racismo estrutural no Brasil afeta suas vidas cotidianas. A série "Mulheres e Migração", lançada aqui no Blog no início de janeiro, também trata da intersecção da temática migratória com gênero, seguindo a linha do que foi tratada nas aulas entre novembro e dezembro.
Por enquanto, o projeto foi encerrado com a certeza de que houve a possibilidade de acompanhar de perto reflexões e experiências únicas e próprias ao momento vivido na atualidade. A vontade é continuar gerando conhecimento e, por isso, a série "Mobilidade Humana e Coronavírus" receberá, a partir da próxima semana, outra "ocupação". Dessa vez, serão textos do Observatório COVID-19 do Centro de Estudos de Migração Internacional (CEMI-UNICAMP). Acompanhe o que vem por aí!
Referência
[1] Núria Carbassa e Guilherme Ramalho, do Núcleo Educativo, e Thiago Haruo Santos, do Núcleo de Pesquisa.