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Memória institucional e exposições: o que acontece quando são encerradas as exposições?
No Museu da Imigração, elaborar uma exposição está entre as atividades culturais de maior importância da instituição; trata-se de um trabalho muito interessante que demanda esforços de uma equipe multidisciplinar, determinação, tempo e inúmeros recursos. Dentre os diversos processos envolvidos na elaboração de uma produção expográfica estão as ações de pesquisa, curadoria, concepção visual, montagem e conservação dos objetos – processos que são realizados minuciosamente para que as ideias e conceitos cheguem ao público da melhor forma possível e garantam o sucesso da exposição.
No MI as exposições costumam ficar um período determinado de tempo em cartaz e após esse período serem desmontadas para dar vez a outra produção expográfica. A depender do período, são chamadas de exposições de longa duração ou exposições temporárias; mas independentemente da quantidade de meses em cartaz, os projetos são muito apreciados pela equipe interna e pelo público. Uma vez que esses projetos são tão interessantes e frutos de tanto investimento, vocês já pararam para pensar sobre o que acontece quando as exposições se encerram? Será que a desmontagem física é o último passo desse processo?
Pois bem, quando as exposições se encerram no MI existe todo um trabalho de pós-produção preocupado não apenas com a desmontagem física, mas também com os trâmites de conservação e documentação. Todas as etapas do processo que gerou a exposição são importantes e, por isso, é fundamental registrá-las da forma correta, sendo assim necessário que se reúnam os textos curatoriais, o projeto expográfico, as fotografias documentais, os folders, cartazes e demais documentos nos chamados “dossiê de exposição”. Todos os materiais reunidos nos dossiês de exposição possuem valor histórico e são considerados de guarda permanente; portanto, passam a ser preservados no arquivo de memória institucional.
Assim como as coleções – museológica, de história oral e bibliográfica – do Museu da Imigração, o arquivo de memória institucional também é um importantes agente na preservação do patrimônio das migrações. Por meio do arquivo, aqui representado pelos dossiês exposição, pode-se tomar conhecimento dos primórdios da instituição e de sua trajetória institucional de mais de 25 anos.
Através da pesquisa nos dossiês de exposição pode-se compreender um pouco mais da história institucional e, por consequência, dos processos migratórios no estado de São Paulo. Por exemplo, uma das primeiras exposições realizadas no MI, em 1995, se chamou “Do outro lado do mundo” e se deu em comemoração aos 100 anos do Tratado de Amizade, Comércio e Navegação entre Brasil e Japão. Ao revisitar essa exposição verifica-se que o trabalho de preservação da memória de diferentes nações ou de grupos sociais específicos é um importante alicerce para o desenvolvimento da coleção do museu. Sem as comunidades migrantes e a memória pessoal de seus integrantes, o Museu da Imigração não possuiria a grandeza de seu acervo, principalmente no que tange a coleção museológica e de história oral.

Ao revisitar os dossiês de exposição mais antigos também é possível confirmar algo que os visitantes do museu relatam com certa frequência: trata-se da experiência sensitiva e afetiva gerada pela antiga exposição de longa duração do Memorial do Imigrante. A sala da navegação é uma das mais comentadas, ainda que o recurso expográfico empregado na exposição seja de uma tecnologia simples, ela marcou a memória de nossos visitantes devido a possibilidade de vivenciar, de certa forma, uma situação comum a seus antepassados.

Os exemplos acima são uma parcela diminuta do potencial do arquivo institucional, pois muitas outras conexões podem ser criadas por meio da pesquisa documental. Embora a bidimensionalidade dos documentos não possa suprir a especificidade de um espaço tridimensional característico das exposições, os materiais presentes nos dossiês de exposição são registros históricos de uma atividade cultural efêmera. Sendo assim, pode-se reconhecer os documentos como potenciais ferramentas para a criação de novos projetos, tais como exposições virtuais em plataformas digitais, exposições itinerantes ou até mesmo futuras montagens.

O Arquivo de Memória Institucional do Museu da Imigração encontra-se em fase de organização, mas boa parte dos documentos está disponível ao público mediante agendamento prévio com a equipe do CPPR.