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Hospedaria de Histórias: Quantas pessoas foram acolhidas na Hospedaria de Imigrantes do Brás?

Definir a quantidade de pessoas que passaram pela Hospedaria de Imigrantes do Brás (1887 – 1978) é ainda uma tarefa inconclusa e seu desenvolvimento é limitado por uma série de dificuldades. Abaixo seguem, resumidamente, alguns fatores importantes para serem levados em consideração:
- Os registros de matrículas na Hospedaria não estão todos presentes em bancos de dados e muitos documentos ainda não foram digitalizados e indexados.
- Muitos registros não foram preservados.
- Há uma série de registros informando a movimentação na Hospedaria que não especificam suas fontes.
- É ainda difícil estabelecer qual a dinâmica de acolhida em determinados períodos, especialmente quando o edifício foi utilizado para outros fins (hospital, presídio, etc.)
É necessário ter em conta que os números apresentados para as matrículas na Hospedaria não indicam se são pessoas ou famílias diferentes. Há registros duplicados e, em alguns casos, migrantes passaram mais de uma vez pela Hospedaria.
De junho de 1887 (quando a Hospedaria acolhe os primeiros migrantes) até 1908 algumas fontes oficiais citam a passagem de aproximadamente 1 milhão de pessoas. Predominam, nesse período, os estrangeiros, notadamente os italianos. De 1908 até 1930, de maneira geral, os números se assemelham ao período anterior, por volta de 1 milhão de pessoas. Nesse período também predominam estrangeiros, porém mais espanhóis, portugueses e japoneses. A década de 1920, contudo, ainda é um pouco nebulosa. Não está claro, até o momento, se todos os registros foram contabilizados. Isso influencia diretamente as percepções sobre os processos migratórios de pessoas provenientes do leste europeu.
O historiador Thomas H. Holloway, em sua clássica obra “Imigrantes para o café”, utiliza os Anuários Estatísticos do Estado de São Paulo como fonte. Indica que não há dados para 1901 e registra a passagem pela Hospedaria, entre 1893 até 1928, de mais ou menos 1,5 milhões de pessoas.
Após 1930 predomina na Hospedaria a entrada de migrantes nacionais, principalmente dos estados do Nordeste do Brasil. O Boletim da Diretoria de Terras, Colonização e Imigração de 1937 traz a informação de 51.263 pessoas alojadas na Hospedaria durante o ano de 1936.
Entre 1943 e 1951 a Hospedaria foi cedida à Escola Técnica de Aviação. Portanto não há registros para esse período.
Informações retiradas de jornais indicam que de 1951 a 1955 passaram pela Hospedaria 762.070 pessoas. Notícias de 1958 indicam uma média de 400 migrantes por dia alojados, um número de 70 mil até maio daquele ano. Outras notícias indicam estatísticas para outros anos, 72.449 para 1957, 145.953 para 1959, 139.277 para 1960 e 144.921 para 1961. Isso representaria, certamente, mais de 1 milhão e 200 mil entradas entre 1951 e 1961. Três anos depois, 1964, indica ainda a passagem de pouco mais de 130 mil pessoas e em 1971 há a informação de que a média diária é de 300 a 400 pessoas, ou seja, uma cifra anual acima de 100 mil.
Mantidas as médias anuais para os anos que não dispomos de dados mais precisos certamente o número de entradas na Hospedaria superaria 3,5 milhões.
Porém, além da falta de fontes precisas, muitas informações se contradizem.
Sendo assim, o que conseguimos admitir?
- As entradas na Hospedaria de Imigrantes do Brás representam mais de 2,5 milhões de registros.
- Tais registros não são necessariamente de pessoas diferentes, algumas famílias e migrantes passaram mais de uma vez na Hospedaria.
- Os brasileiros representam a maior parcela de acolhidos na Hospedaria
- Os italianos estão em maior quantidade entre os estrangeiros.
- É ainda necessário esmiuçar mais fontes e cruzar mais dados para conseguirmos obter números mais precisos acerca dos registros de migrantes na Hospedaria.
